sexta-feira, 14 de maio de 2010

Hora de verão

Os relógios deviam ser destruídos.
A medição do tempo é o maior instrumento de repressão da liberdade individual que o homem inventou.
Às nove em ponto tens que estar no teu posto de trabalho. Às treze, concedem-te a liberdade de almoçar. Mas não te atrases, come rápido. Não hesites a inventar flores pelo caminho, a descobrir a ternura dos olhos daquele cão ou gato em que tropeças na tua pressa. Não te lembres de parar e começar a pensar porque fazes sempre tudo tão igual.
Depois, o arrastar da tarde... à espera da hora de sair.
Voltar para casa, beijos e amor apressado. É preciso dormir. Porque amanhã é um novo velho dia.
Que se vai repetindo.
A medição do tempo é uma convenção. A pior de todas.
Esperas ansiosamente que chegue o fim de semana. Sem notar que vives aos saltos, de fim de semana em fim de semana. E que cada um que esperas ansiosamente que chegue, te faz exactamente uma semana mais velho.
Os relógios são uns carrascos.
Até para te divertires, para estares com os amigos, tens hora marcada.
O tempo não tem horas... não adianta o relógio no verão, não o atrasa no inverno.
A flor nunca está atrasada, as árvores não têm pressa.
Mas tu sim.
E chega o dia, inevitavelmente, em que estarás deitado, sereno, vestido com a tua melhor roupa escura, sem pressa nenhuma e sem lugar para onde ir.
Mesmo assim, alguém vai olhar para o relógio e dizer: são horas!

Aqui jaz... - R.I.P. - Descanse em paz...

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