quarta-feira, 12 de maio de 2010

Dorme, meu amor

"Dorme, meu amor, que o mundo já viu morrer mais
este dia e eu estou aqui, de guarda aos pesadelos.
Fecha os olhos agora e sossega o pior já passou há muito tempo;
e o vento amaciou; e a minha mão desvia os passos do medo.
Dorme, meu amor...
A morte está deitada sob o lençol da terra onde nasceste
e pode levantar-se como um pássaro assim que adormeceres.
Mas nada temas: as suas asas de sombra
não hão-de derrubar-me eu já morri muitas vezes
e é ainda da vida que tenho mais medo.
Fecha os olhos agora e sossega a porta está trancada;
e os fantasmas da casa que o jardim devorou andam perdidos
nas brumas que lancei ao caminho.
Por isso, dorme, meu amor,
larga a tristeza à porta do meu corpo e nada temas: eu já ouvi o silêncio,
já vi a escuridão, já olhei a morte debruçada nos espelhos
e estou aqui, de guarda aos pesadelos.
A noite é um poema que conheço de cor
e vou cantar-to até adormeceres."

(Maria do Rosário Pedreira)

Sem comentários: