domingo, 17 de abril de 2011

Caminho

Já andei tanto. Sem saber quanto mais terei de andar. E ando, mesmo sem saber onde os meus passos me levam. Mesmo sem saber os caminhos que trilho, os sonhos que abandonei ou perdi e as memórias que esqueço. Até não saber quem sou ou o que é feito de mim.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Abismo


Nunca descobri a razão de ser preciso descer ao fundo dos oceanos

para te encontrar enrolada debaixo das anémonas mais vistosas

e ter de filtrar as areias para respirar o teu movimento.

Nem nunca descobrirei a razão de estar sentado no vazio

escuro e sem cor sabendo que nenhum som me virá despertar.

As ondas e correntes são as mesmas. Frias revoltas traiçoeiras e perigosas.

Só eu mudei. Deixei crescer a loucura que se instalou nos pedaços

do coral seco e quebradiço em que se transformou o meu coração.

Outra maré será precisa para devolver a plenitude da luz à escuridão dos meus olhos.

E eu precisarei de me transformar num habitante vivo dos recifes para me sustentar

do plâncton que circula na vertigem do abismo do teu corpo.

domingo, 10 de abril de 2011

A pior metade de mim

Talvez tenha sido apenas

esse pequeno lapso no tempo

que constrói a memória

(como se do intervalo retemperador

de um jogo sem glória

se tratasse),

que me fez perder a direcção

a rota, o rumo

assim como se andasse

a inflectir nos meus abraços

a perder-me nos meus passos.

Sou só metade de mim.

Talvez seja essa a história bem guardada

nesta arca sem aliança

que trago aferrolhada.

Sou só metade de mim. A pior.

A que se move, anda, fala e come

mas não consegue dormir

sonhar, viver ou ter fome.




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