sexta-feira, 15 de abril de 2011

Abismo


Nunca descobri a razão de ser preciso descer ao fundo dos oceanos

para te encontrar enrolada debaixo das anémonas mais vistosas

e ter de filtrar as areias para respirar o teu movimento.

Nem nunca descobrirei a razão de estar sentado no vazio

escuro e sem cor sabendo que nenhum som me virá despertar.

As ondas e correntes são as mesmas. Frias revoltas traiçoeiras e perigosas.

Só eu mudei. Deixei crescer a loucura que se instalou nos pedaços

do coral seco e quebradiço em que se transformou o meu coração.

Outra maré será precisa para devolver a plenitude da luz à escuridão dos meus olhos.

E eu precisarei de me transformar num habitante vivo dos recifes para me sustentar

do plâncton que circula na vertigem do abismo do teu corpo.

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