segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Imperfeito



Eu não sou perfeito.
Mas encontro os momentos perfeitos quando deixas que as minhas mãos te amem sem jeito.
Encontro os momentos perfeitos, sábios, quando vejo nos teus olhos essa dança sem vergonha de quem ama, janela de tempo com sabor indecifrável que nasce num murmúrio dos teus lábios.
Quando faço da planície perfeita do teu ventre maleável o meu mais doce e deslumbrante leito.
E é perfeito.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Admirável conjunção

Que admirável conjunção é esta
Que nos trouxe até aqui
Um novo mundo
Onde fundamos colónia sem colonos
E afloro o teu corpo
Como as ondas que rebentam na falésia
Ou mansamente se espraiam nas areias?
Que admirável conjunção é esta
Que nos ensina a matemática a química a balística
Formulando as equações
Criando os compostos
Definindo a trajectória
Que vai de mim para ti?
É a esta admirável conjunção
Que me faz acreditar em deuses e ciência
À falta de melhor
Chamarei de amor
Inventando a palavra
Sílaba a sílaba no teu corpo
Dando-lhe a fonética do teu beijo

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Metronómica

Dizer que te amo não é suficiente
Nada é suficiente quando falo de ti
Ou quando falo para ti
Não é suficiente
Quando me desarmas
Em frases simples
“Meu amor querido”
“Amo-te”
E não sei recompensar milagres

Digam-me que estou cansado
Que não há novidades
Neste lado do espelho inerte
E que as palavras se decompõem
Pedaços de nós
Marcas rupestres
Em momentos perpetuados
Na solenidade do suor e pele
Digam-me com voz convincente
Conivente
Melíflua enganadora
Como se sempre tivessem sabido
Do engano proferido no amanhecer
- Mantras mandalas entoados e desenhados
No leito dos pássaros esvoaçando nas correntes -
E do sentido do encanto da mentira
Mil vezes repetida

Digam-me que estou cansado
Que as palavras me fogem
Sorrateiras nos campos destroçados
Como borboletas
Na ponta da minha língua
Pelo teu corpo
Que a vontade decresce
Sem saber da metronómica do espanto

Vos direi que não
O vosso engano permanece
Frio incólume de mercúrio e aço
Que nada é suficiente
Na tua pele aveludada
Nesse levíssimo tom moreno
Amálgama pueril de sonhos
Me canso repouso e refaço

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Tu e Eu

A intensidade do dilúvio
Que escapa em delírio na tua voz
Sobrepõe-se à música que os meus dedos ouvem
Ao desmontar os segredos pendurados na tua pele.
És tu e eu.
E a mistura de sabores no arco-íris
Que escondes na ponta da tua língua.
Lanças-me o desafio que guardas no limite dos meus lábios
Esquecidos da simplicidade húmida da chuva.
E passeias, ondulas, na superfície onde deito pétalas de flores
Que não sabia arquejantes e coloridas
Quando as colheste para mim.
És tu e eu.
E assim ficamos lembrando o leito da manhã imóvel
No balanço entoado dos nossos corpos.