segunda-feira, 31 de maio de 2010
A água que bebo I

Dias de tédio

E que ainda ninguém, nem tu, descobriu o que eu sou!
sexta-feira, 28 de maio de 2010
AB IMO PECTORE

O nosso futuro é a eternidade... Melhores e maiores sonhos!
Sonhos que permaneçam.
Céus mais azuis, sóis mais brilhantes.
Vozes que não se desvanecem, olhos que não se fecham.
Nunca...
Eternidade...
Memórias que não se apagam, mãos que nos seguram.
E tu, sempre tu,
a vaguear pelos espaços mais escondidos do meu ser,
como um pássaro voando livre,
afastando as angústias,
afugentando o medo.
Eternidade...
Querer estender os braços, como asas,
voar contigo,
sem prisões, sem distâncias a percorrer.
Nada...
Eternidade...
Apenas eu, apenas tu,
ao sabor do vento soprando,
apenas emoções.
Querer ser mais do que eu, mais do que sou,
maior do que o tempo.
Poder roubar à morte este momento...
E sentir...
Sem mágoas, sem tristezas.
Eternidade...
Melhores e maiores sonhos para sonhar.
E tu, sempre tu,
perdida em mim,
fazendo girar o mundo.
"ab imo pectore..."
Eternidade...
A invenção de deus
Hoje, é apenas um dia como os outros

Como se a noite e o sono me descansassem, renovassem, fisica e espiritualmente, e descansasse e renovasse o meu mundo.
Mas não só. Que o dia amanhecesse mudado. Que as cores das pessoas, dos prédios, dos carros, do alcatrão, fossem outras. Não sei como, nem de que tons.
Queria que os sons do dia a dia tivessem outra vibração, talvez uma melodia.
Queria que os meus gestos, os mais simples e vulgares, tivessem outra amplitude. Talvez abarcando tudo e todos, não sei.
Queria, pelo menos, acordar transfigurado, que não fosse eu. E se fosse eu, que não fosse como sou.
Mas tu continuas algures, longe, demasiado longe... e eu aqui, mais perto de mim do que queria...
Nada mudou.
Hoje, é apenas um dia como os outros.
Se eu fosse assim como as estrelas
Procuramos a imortalidade, a eternidade, o infinito, a felicidade, e ficamos com a idéia que todas aquelas primeiras realidades se têm de conjugar para conseguirmos alcançar a última.
Será assim?
Porquê tentarmos ser mais do que somos? Será que nos está destinado algum dia saber a razão das coisas? Das grandes e das pequenas, das mais complexas e das mais simples?
Será que para nos compreendermos a nós próprios temos que encontrar um qualquer mistério fundamental, uma entidade primordial e criadora, um qualquer deus, que sossegue a nossa razão insolente?
Talvez se não fossem estes segredos que alimentam as estrelas, entre a pressa do tempo e o eterno que as tem presas, deus estivesse na ponta dos nossos dedos.
E nós, talvez fossemos como elas...
Inominado

aquele que ninguém chama,
aquele que não se pronuncia
Eu sou
aquele que vagueia
pelo caminho solitário
Eu sou
inominado, vazio,
sem destino ou direcção
Eu sou
raíz apontando ao sol,
ramo mergulhado no chão
Eu sou
chuva caindo ao contrário,
alma que não vingou
Eu sou
maldita alma essa
que aos pedaços o tempo levou
(E o cosmos inteiro a sussurrar:
Volta... Depressa...)
Mistérios da Serra de Sintra
quinta-feira, 27 de maio de 2010
Vícios
Poderei esquecer?

quase-aconteceram, deveriam acontecer.
Deveriam é talvez forte demais.
Talvez pudessem ou merecessem.
Eu merecesse.
Talvez porque achei definitivo esse meu azul.
Porque te trouxe à tona, prestes a afogar-me,
vinda de uma floresta líquida de elfos e elfas.
Talvez por seres única e reconhecer-te como tal.
E foi assim, simples como sou, que me vi em ti.
Poderei esquecer?
O tempo que passou não foi suficiente para saberes?
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Projecto inacabado
O que apetece

e lá onde a hora tece...
Apetece
o que foi..."
(Ana)
Lançamos no ar a ponte
que traça a noite no dia.
Fazendo o longe perto
preenchendo este vazio
esta morte este deserto
a vida que renasce e acontece.
O que é…! O que será…!
E apetece.
terça-feira, 25 de maio de 2010
Fazes-me falta (2)

O fumo desenrola-se lentamente à minha frente e fico entretido a olhar para as caprichosas voltas e curvas que desenha no ar.
Ponho de lado o livro que não cheguei a abrir.
Lembro-me das coisas rotineiras que tinha para fazer. E não fiz.
Olho pela janela. Lá fora tudo na mesma.
As árvores, o lago, o jardim.
Os arrumadores à espera do carro que não chega.
Os velhos reunidos na batota.
Pombos dançando no ar.
E tu? Não te vejo. Nem sei se existes. Mas fazes-me falta...
Será que ainda sei sorrir?
Acendo mais um cigarro. Sei que não devia mas sabe bem.
O fumo desenrola-se lentamente à minha frente e fico entretido a olhar para as caprichosas flores de morte que desenha pelo ar.
Ponho de lado o livro que nunca vou abrir.
Esqueço-me das coisas rotineiras que estou farto de fazer.
Fecho a janela às árvores, ao lago, ao jardim, aos arrumadores à espera do carro que não chega, aos velhos reunidos na batota.
Pombos continuam a voar.
E tu? Continuo sem te ver, sem saber se existes. Mas, decididamente, fazes-me falta...
Será que ainda sei dormir?
Acendo mais um cigarro.
Fazes-me falta...
domingo, 23 de maio de 2010
Porque o "amor" já morreu

Não apenas o simples oposto do amor, mas o oposto mais geral da vida, já que o amor é vida e o desamor contrário a ela.
Apetece-me falar do desamor. Daqueles que falam do amor com frases feitas e vazias.
Hoje, apetece-me falar da maior violência, do desamor, a violência surda dos sentimentos.
Hoje, apetece-me falar do desamor. Porque o "amor" já morreu.
Embora o meu continue a forçar o destino.
Gente normal
Sem delírios de sonhos impossíveis?
A vida é um túnel
vazio e escuro.
Onde está a saída?
sábado, 22 de maio de 2010
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Um beijo desenhado

Mas eu não te canto a vida, por isso nada invento.
Amo-te pelo que és.
Prefiro pois partir contigo à sua descoberta e das estradas
que se perfilam perante nós.
Nesta viagem, nunca te ofereci mais do que as minhas mãos vazias.
É pouco.
Mas são as mãos que sempre estiveram e estarão ao teu dispor
para te agarrar, segurar e não te deixar cair.
E neste momento, sem te cantar nada e sem descobrir nada
apenas a saudade de um beijo desenhado nos teus lábios.
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Deixa-me ser tudo, ou nada

Deixa-me ser as cores, as tintas.
Sê tu a viola, as cordas, a mão.
Sê tu o pincel, a tela onde pintas.
Deixa-me ser o mar, o sal, a corrente.
Sê tu a onda, a rebentação
vigorosa ou indolente.
Deixa-me ser o vento, o ar, a estrada.
Sê tu o pássaro, os passos,
que em mim voa e em mim traçam
ponto a ponto, e nos espaços
a viajante encantada.
Sê tu de mim peregrina!
E eu para ti... tudo ou nada!
Acordai, estou de partida

Árvores erguidas
de seiva rendilhada
mistérios de raízes insolúveis
folhas esmaecidas
Acordai
Estou de partida
Acordai
Pássaros cansados
neste céu esgotado
trazendo e levando
ventos
cálidos dedos
enclavinhados
nos bicos e tempos
emudecidos
Acordai
Estou de partida
Acordai
Sementes esquecidas
obedecendo ao futuro
germinem!
Projectando
tentáculos e garras
em direcções
desconhecidas
Acordai
Estou de partida
Acordai
Quero-vos junto a mim
nesta amarga
despedida
de olhos fechados
coração teimoso
respiração desaparecida
(que os vossos ramos secos,
o vosso voo silencioso e negro,
os vossos caules crescendo,
em profundo desatino,
desenhem, selando,
hoje e sempre o meu destino)
Vivo de sombras

Senta-te.
Pode ser naquela cadeira onde nunca te sentaste, perto de mim.
Ainda tenho tempo para te falar, tomar um café, fumar um cigarro e para te ouvir.
Os teus olhos... nunca os vi assim tão transparentes e brilhantes.
Talvez por que das outras vezes que vieste não perdeste tempo comigo, vinhas por outras razões, vinhas por gente que amei.
Hoje, vens por mim, e eu vesti a minha melhor roupa. Deitei-me, imóvel, à tua espera, como se antes a Górgona Medusa tivesse passado por aqui, antes ainda de Perseu a matar, antes ainda de Pégasus nascer do seu sangue derramado.
Sabes, o dia acabou, sempre igual, e a noite chegou. Como sempre, sem nada para fazer.
Cansado de estar aqui a rabiscar em papéis, a sonhar.
Por isso tenho tempo para conversar e te conhecer melhor.
Entra.
Senta-te.
Diz-me como vai ser o futuro, já que vens das terras sem tempo.
Antes de ir a qualquer lado contigo, quero saber.
Há música de onde vens? Sol? Chuva? Sentimos o vento na nossa face?
Entra.
Senta-te.
Não me beijas? Tão séria e branca. Tão distante.
Vamos então, faz-se tarde, o dia nasce.
Não tenho malas a fazer.
Tudo o que tenho transporto nos meus braços e mãos.
E as sombras não têm peso.
Escuta!

É este o murmúrio do meu sangue.
Que não te pareça estranho.
Porque é dele que vivo, é dele que me sustento.
Escuta...
Tantas e tantas noites e dias este pulsar
Quase silencioso
Ruminando nos meus tímpanos.
Escuta...
Porque não tinhas como saber
Que neste corpo que se arrasta
Pelas dimensões finitas deste mundo
Ecoa murmurante esta cor
Escuta...
sábado, 15 de maio de 2010
Os dias em resumo
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Hora de verão

A medição do tempo é o maior instrumento de repressão da liberdade individual que o homem inventou.
Às nove em ponto tens que estar no teu posto de trabalho. Às treze, concedem-te a liberdade de almoçar. Mas não te atrases, come rápido. Não hesites a inventar flores pelo caminho, a descobrir a ternura dos olhos daquele cão ou gato em que tropeças na tua pressa. Não te lembres de parar e começar a pensar porque fazes sempre tudo tão igual.
Depois, o arrastar da tarde... à espera da hora de sair.
Voltar para casa, beijos e amor apressado. É preciso dormir. Porque amanhã é um novo velho dia.
Que se vai repetindo.
A medição do tempo é uma convenção. A pior de todas.
Esperas ansiosamente que chegue o fim de semana. Sem notar que vives aos saltos, de fim de semana em fim de semana. E que cada um que esperas ansiosamente que chegue, te faz exactamente uma semana mais velho.
Os relógios são uns carrascos.
Até para te divertires, para estares com os amigos, tens hora marcada.
O tempo não tem horas... não adianta o relógio no verão, não o atrasa no inverno.
A flor nunca está atrasada, as árvores não têm pressa.
Mas tu sim.
E chega o dia, inevitavelmente, em que estarás deitado, sereno, vestido com a tua melhor roupa escura, sem pressa nenhuma e sem lugar para onde ir.
Mesmo assim, alguém vai olhar para o relógio e dizer: são horas!
Aqui jaz... - R.I.P. - Descanse em paz...
Gravis Est Dolor

Gostava de ser mágico, feiticeiro de movimentos. Com apenas um gesto, suave mas firme, tocando no ponto certo do ser, mudasse o que deveria ser mudado, e tornasse numa remota, indistinta e vaga lembrança, o sofrimento.
E não podendo ser o que quero, nem tendo nada para oferecer, posso pelo menos estar sempre aqui.
Quanto mais pesada é a dor, mais egoísta me torno, mais preciso de presença e menos tenho para dizer.
Podia ser tudo
Saber quem és
Mas hoje, amadurecida a dor, não me encontro mais perto do teu olhar.
E ando a perder-me atrás de sonhos! A sentir-me cansado ao antever pesadelos.
Já que as marcas que deixei em ti foram leves e passageiras, mas as que deixaste em mim foram profundas. Mais do que um dia poderás imaginar.
Porque, além de no meu corpo e sentidos, as deixaste, como um ferrete, na minha alma profana que se estranha, se revolta, rejeita e revê finita mas que nem por isso se imagina e sente menos eterna.
Humanidade perdida

Ou deveria ser.
Sempre entendi que essa simplicidade descomplicada de “ser humano” era uma espécie de normalidade “anormal”.
Mas descobri que o tempo trouxe o primado da anormalidade “normal”, que tudo, afinal, é ao contrário do que vivi.
Demito-me, pois, de “ser humano”. Serei apenas o animal que sente, chora, anda, ri… e esperar que a natureza me devolva a humanidade e o amor que perdi.
Perdido

E procuro saber porque me apaixonei e porque não consigo esquecer.
Não sei.
Se soubesse era fácil encontrar um antídoto, uma solução.
Teria sido pelos teus olhos? Pelo teu cabelo? A tua face?
Penso que não. Porque me apaixonei ainda antes de te ver.
Então o que foi? Que palavra, que vocábulo, que construção gramatical?
Foi o que subentendi nas tuas palavras escritas? O mais essencial de ti?
Foi por nunca teres dito que me amavas nem nunca teres dito o contrário?
Na verdade nunca virei a saber porque foi, nem realmente interessa.
O que interessa é que me perdi na tua alma.
E não sei como regressar…
Mesmo quando tu encontraste outros caminhos.
No silêncio onde te encontro

Capaz de grandes e pequenas coisas.
Esse silêncio onde te proteges e resguardas fingindo uma timidez que é o teu traço perfeito.
E eu fecho os olhos e vejo-te colorida, abandonada, em casa, deitada nos meus sofás, descansando.
Estou aqui, contrariando esta vontade de te escrever qualquer coisa, de te falar de qualquer coisa, n'importe quoi.
Apenas observando esse silêncio melodioso, matando a minha sede e guardando a tua imagem.
Sê bem-vinda ao mar da ilusão.
quinta-feira, 13 de maio de 2010
Inelutável
imóvel
em ténue equilíbrio no gume afiado do teu peito
Sim
sei mais de ti do que tu descobres
ao tocar a tua alma num simples beijo
E
de tudo guardo a vontade
de não voltar a ser o que fui antes de nós
Sinto-te
sei que estás aí
longe de mim
Assim
perdida dentro de ti
e não me deixas encontrar-te

- Eu - Sim - Sinto-te - Assim -
Improvável, inatingível, inadiável...
O que não se vê e não se sente, o que é infinito e distante, não existe. É apenas uma eventualidade, uma miragem traiçoeira da imaginação. Assim como eu.
Pior do que física, é esta paralisia “pentaplégica” dos sentidos. Ver sem olhar, deglutir sem saborear, respirar sem cheirar, ouvir sem escutar, mexer sem tactear. Estar vivo sem viver. Ter alma e não saber...
As estrelas estão lá. Teoricamente. E eu também. É isso que sabes, sentes e vês de mim.
Tu estás a começar a tua viagem. Eu estou a chegar ao fim da minha. E ainda não me mostraram o porto de destino.
Pelo caminho tudo foi ficando.
Resta-me apenas a vontade urgente de chegar e desembarcar,
Depressa.
Meine Liebe
A água que bebo
Cine Paradiso
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Dorme, meu amor
este dia e eu estou aqui, de guarda aos pesadelos.
Fecha os olhos agora e sossega o pior já passou há muito tempo;
e o vento amaciou; e a minha mão desvia os passos do medo.
Dorme, meu amor...
A morte está deitada sob o lençol da terra onde nasceste
e pode levantar-se como um pássaro assim que adormeceres.
Mas nada temas: as suas asas de sombra
não hão-de derrubar-me eu já morri muitas vezes
e é ainda da vida que tenho mais medo.
Fecha os olhos agora e sossega a porta está trancada;
e os fantasmas da casa que o jardim devorou andam perdidos
nas brumas que lancei ao caminho.
Por isso, dorme, meu amor,
larga a tristeza à porta do meu corpo e nada temas: eu já ouvi o silêncio,
já vi a escuridão, já olhei a morte debruçada nos espelhos
e estou aqui, de guarda aos pesadelos.
A noite é um poema que conheço de cor
e vou cantar-to até adormeceres."
(Maria do Rosário Pedreira)
Mea culpa, mea maxima culpa...

Do enredo que eu próprio criei?
Abandono-me a esta auto-comiseração, esta piedade, esta indiferença a que me voto.
Eventualmente irei esquecer-me de viver quando tu te esqueceres do que vivi.
O teu ar trespassa o meu corpo como punhais azuis lançados lá bem do alto pelos deuses.
Abro os meus braços, recebo-te.
A princípio receoso, por fim resignado.
Nada poderia ter feito para te impedir.
És a morte, a vida, a transgressão, o sangue, a paixão, o amor.
Quem sou eu para implorar o teu perdão?