quinta-feira, 3 de junho de 2010

Exorcizo-te-me

Nesta agonia fora de tempo, sonho que possa um dia existir um deus.
Um qualquer.

Porque preciso de te exorcizar, arrancar, extirpar de mim.

Levanto as minhas mãos, sim essas, as mesmas que te tocaram, e tento inventar um ritual de purificação, ou sublimação, que faça desaparecer esta sensação da ponta dos meus dedos.
Invoco a entidade, se é que há uma, para me ajudar nesta tarefa.

Porque preciso de te exorcizar, arrancar, extirpar de mim.

Os meus lábios balbuciam palavras desconexas nesta reza, tentando esquecer o sabor dos teus e como eles roçavam levemente pelos meus, determinando o desejo insaciável de ti.

Porque preciso de te exorcizar, arrancar, extirpar de mim.

Sei que estás tão mesclada, interligada, numa simbiose de proporções cósmicas, que poderá ser fatal este exorcismo.
Mas necessário.

Porque preciso de te exorcizar, arrancar, extirpar de mim.

Exorcizo-te de mim
Exorcizo-me de ti
Exorcizo-te-me
Ajoelho-me...
Cedo...
Revolto-me...
Mas continuas...
Que eu não saiba não sentir...
Que mistério é este que mexe com o mais profundo da fonte das águas?

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