terça-feira, 3 de maio de 2011

Longe demais

Envelheço.
Pensei que podia passar os dias deitando para trás das costas as recordações.
Que podia entrar nesse jogo do "esqueço-mas-não-esqueço", que podia fugir andando em frente.
Mas os dias perseguem-me, arrastam-se, e têm o tempo exacto da percepção que tenho deles. Dias longos. Longos demais.
São segundos, minutos e horas do dilúvio em que me afogo nas lembranças.
São lugares a que talvez não volte mais. Pessoas de quem não sei e não esqueci.
Envelheço.
Como resíduo de cristais de água que evapora ao sol ou planta que seca lentamente sem raízes.
Olhares e sorrisos que se fecham, decretando o injusto perpendicular e matemático rearranjo das desilusões.
Por algum motivo está colada a mim esta certeza crispada do vazio.
E aguardo, impaciente, que cesse a realidade.
Dias longos são os meus. E foram longe demais.

Sem comentários: